Companhias aéreas low-cost ampliam presença na América do Sul, elevando sua participação de mercado para 43% em 2023
O mercado aéreo da América do Sul registra uma expansão significativa das companhias aéreas de baixo custo, que, impulsionadas por modelos de operação mais flexíveis e preços competitivos, avançam sobre a participação de mercado das tradicionais empresas de bandeira da região.
Dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) apontam que a fatia de mercado das low-costs sul-americanas subiu de 37% em 2019 para 43% em 2023. O crescimento das low-costs afeta diretamente a atuação de empresas tradicionais como Aerolíneas Argentinas, Avianca, Gol, Azul e Latam Airlines.
Na Argentina, a Aerolíneas enfrenta dificuldades financeiras decorrentes da pressão competitiva de companhias como JetSmart e Flybondi, que oferecem tarifas significativamente mais baixas. Cenário semelhante ocorre na Colômbia, onde a Avianca lida com a expansão de empresas como Wingo e JetSmart Colômbia, subsidiária recém-estabelecida.
No Brasil, as empresas tradicionais enfrentam a competição das low cost chilenas e argentinas em rotas tradicionais como Buenos Aires, Santigo do Chile e Mendoza. No Chile, além da presença da JetSmart, a SKY Airlines também se consolida como importante concorrente da Latam, operando sob o modelo low-cost desde sua fundação.
A ascensão dessas empresas é favorecida por características estruturais do mercado sul-americano, como a menor dependência do segmento de viagens corporativas e a predominância de ageiros sensíveis a preço, principalmente em uma classe média em crescimento, mas impactada por sucessivas crises econômicas, principalmente por questões cambiais.
Ao contrário dos Estados Unidos e da Europa, onde grandes companhias aéreas utilizam complexos sistemas de hubs para conectar centros econômicos diversos, enquanto as empresas de baixo custo operam, normalmente, em aeroportos secundários. Na América do Sul os mercados são mais concentrados e instáveis. Além das empresas competirem geralmente nos mesmos aeroportos e horários.
Essa dinâmica dificulta que empresas tradicionais façam ajustes rápidos em suas malhas, enquanto as low-costs operam redes ponto a ponto, mais ágeis e adaptáveis às mudanças de demanda.
A resiliência das low-costs também se explica pela maior capacidade de adaptação às oscilações econômicas da região. Companhias como JetSmart, Flybondi e SKY Airlines adotam estratégias que privilegiam flexibilidade e estímulo à demanda em mercados específicos, consolidando sua presença onde há maior procura.
A Flybondi anunciou quatro novas rotas no Brasil, ando a oferecer, a partir de dezembro, voos diretos de Córdoba para Florianópolis e Rio de Janeiro. E novos trajetos de Buenos Aires para Maceió e Salvador. Esta será a primeira vez que a Flybondi operará rotas diretas entre Córdoba e o Brasil. Já a JetSmart retomou os voos entre Mendoza e o Rio de Janeiro, apostando no potencial turístico de ambos os destinos.
Além das vantagens estruturais e operacionais, decisões estratégicas impulsionaram o sucesso das low-costs sul-americanas. Outro fator determinante é a atuação do fundos de capital estrangeiros, como o norte-americano Indigo Partners, especializado em aviação de baixo custo, controlador da JetSmart.
Especialistas indicam que as companhias aéreas de baixo custo devem continuar ganhando espaço, especialmente diante da dificuldade das operadoras tradicionais em responder às mudanças do mercado e ao aumento dos custos no pós-pandemia. Enquanto nos Estados Unidos e na Europa as grandes empresas têm maior flexibilidade para adaptar suas operações e competir com as low-costs — impulsionadas pela elevada demanda em todos os segmentos —, na América do Sul as companhias tradicionais continuam perdendo terreno no mercado de lazer, segmento que lidera a recuperação do setor aéreo.
Por Marcel Cardoso
Publicado em 22/05/2025, às 09h17
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